sábado, 5 de dezembro de 2009

Mais de onze mil visitas?

Será que meu contador de visitas despirocou?
Vai entender...
Um dia dedico umas duas horas do meu dia pra isso aqui! Por enquanto quase impossível!
Isso é o que dá querer abraçar o mundo com as pernas. Isso custa caro.
Reflitam.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Aniversário - We Hide Tonight...

Trezentos e cinquenta e cinco dias atrás escrevi um post no qual botei pra fora tudo o que vinha sentindo na época. Não terminei de reler graças a uma (não tão brilhante) idéia que me deu: botar tudo pra fora de novo, quase um ano depois. Não reli também pra não me sentir influenciado pelo post anterior e fazer com que este soe mais... natural, acho.
Enfim, do pouco que me lembro daquela época (sim, minha memória nunca foi boa) a situação era tensa. Por mais que eu não me lembre de fatos, lembro exatamente do emaranhado de sentimentos da época, que não era dos mais agradáveis.
Entretanto, hoje me sinto muito melhor. Muitas coisas mudaram em quase um ano e eu mal pude acompanhar. A começar do meu humor, que, de modo geral, anda muito melhor. Alguns problemas persistem (estes são os problemas de sempre) outros sumiram abruptamente, outros eu tive de fazer uma força descomunal pra sumir - e sumiram - e outros foram embora por conta de fatos/pessoas externos. Conheci bastante gente nova. Muita gente agradável, outras nem tanto.
O sentimento que paira hoje é de que a vida acabou de começar. Enfim posso traçar projetos à longo prazo, com prazer, inclusive. Acho que a mudança de curso deu uma revigorada. Tenho a sensação de estar començado de novo com uma experiência prévia que me era necessária quando comecei pela priemeira vez. A sensação de recomeço é encantadora.
Mais enfin... Estou trabalhando uma mania que é realmente impregnada em mim. O fato de querer fazer dezenas de coisas ao mesmo tempo. Hoje abro mão (amargamente) de muitas coisas as quais fazia questão anteriormente. Basicamente larguei língua estrangeira, música e amigos (falha grave) pra ter tempo hábil pra fazer o resto. Espero retomar estas atividades em 2, 3 e o mais rápido possível respectivamente. O resto vai a (quase) todo vapor. Algumas coisas novas me fazem brilhar os olhos. Algumas pessoas novas me fazem abrir a cabeça ainda mais. Quanto mais a gente acha que conhece variados tipos de pessoas, mais pessoas esquisitas conhecemos. Isso é bem agradável.
É interessante trabalhar com perspectivas. Na verdade o bom é poder criá-las, pois prescreve a existência de alicerce para isso. A partir disso devo dizer que o próximo defeito a ser amenizado ou exterminado é a irritação em ver meus planos não darem certo. Metodismo não é a melhor saída. Jogo de cintura é.
Enfim, é assim que me sinto hoje: (re)começando. Cabeça borbulhando de planos e idéias. De novas pessoas. De parcerias com novas e velhas pessoas. De possibilidades de criação de redes dos mais diversos tipos. Me sinto cansado, mas, desta vez, um cansaço sadio. Um cansaço que passa. Um cansaço quase agradável, exceto pela falta de tempo pra descansar. Meio paradoxal, mas é mais ou menos isso. Neste ano minhas perspectivas vêm se desenrolando muito bem. Espero que continue assim por muitos e muitos anos.
Agora é parar de prolixidade aqui, a vida me espera.

Saudações.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Quebra de Jejum

Sabe aquelas vontades repentinas que se tem de ser alguém? É assim que venho me sentindo!
Obviamente eu já sou alguém. Mas eu não quero ser alguém, quero ser ALGUÉM!
Sabe aqueles dias que você acorda com toda vontade de ser o melhor do mundo? É mais ou menos isso o que sinto!
É engraçado o quanto isso nos motiva... Duro é cair na real e ver que eu, sendo bem realista comigo mesmo, não vou ser o melhor do mundo em nada. Não é esse o rumo que dou pra minha vida hoje. E se continuar nele, não é isso que irá acontecer. Então, de onde vem essa vontade? Acho que de tudo ao redor.
Somos educados socialmente pra sermos os melhores em tudo. Só que não há espaço pra tantos "melhores". Isso acaba desprezando uma parcela considerável de pessoas muito boas e boas. Numa das aulas de administração da vida, a professora falou de estudos nos quais demonstravam as reações das pessoas em um pódio. A felicidade descomunal do terceiro colocado simplesmente por estar lá, entre os vecedores. Toda a pompa e realização do primeiro colocado por ser o melhor, de fato, o campeão. E a frustração clara do segundo colocado que, por tão pouco, não está no degrau mais alto. Arrisco dizer que o terceiro colocado certas vezes esbanja mais felicidade que o primeiro. Acho que tudo na nossa vida é assim!
Todos querem ser os primeiros colocados, os vencedores, mas se amargam com a segunda colocação. Mas poxa, vida, não é difícil lutar contra isso.
A realidade é que as pessoas superestimam determinadas coisas e esquecem de dar o mínimo valor às coisas que realmente necessitam. Um segundo lugar é MUITO BOM. Um quase às vezes é a melhor opção. Um terceiro lugar então, nem se fala! Por pouco não você não conseguiu. E as pessoas se frustram por não serem o melhor e se cobram como se fosse sua culpa.
Acredito fielmente que cada um tem seu momento, e que, se você de fato luta por algo, você vai conseguir. E não há concorrente que te impeça. O mundo é tão repleto de possibilidades que não é possível que não haja ao menos uma pra cada um, oras! Acho que persistir é mais importante do que vencer.
Como dizia Renato Russo, "quem acredita sempre alcança". Somado ao que diz Thom Yorke, "you can try the best you can, if you try the best you, the best you can is good enough".
Então, quando a frustração começa a querer aparecer, eu começo a pensar nisso tudo e logo logo ela se espanta e vai embora! É muito complicado quando as coisas/pessoas não ganham seu devido valor! Todos deviam pensar melhor nisso, pra evitar atitudes destrutivas.
Bem, pelo menos comigo funciona, né? E talvez isso tudo seja apenas uma visão otimista da vida. Mas se com otimismo ela já é difícil, com pessimismo eu não quero encará-la nunca mais!
E, infelizmente, não se vê facilmente alguém que lunta contra o que a sociedade ensina... Pena.

E sim, estou bem! Cansado, correndo com a vida, mas com pouco à reclamar! E o que tenho pra reclamar será sanado em breve! Enfim meus planos vem dando certo! Enfim estou tendo a coragem de tomar as rédias da minha vida e guiá-la como bem entender!

Eu não faço questão de ser o primeiro colocado, faço questão do pódio. A colocação que vier é lucro.


Saudações.

sábado, 4 de abril de 2009

Não gosto do que eu escrevo

De vez em quando eu dou uma lida, mesmo que por cima em tudo que já escrevi aqui... E chego a conclusão supracitada: não gosto do que eu escrevo. Cada post desse é um soco no estômago. Alguns secos e bem dados, algus mais desajeitados, mais moles... Alguns são um soco que acaba dando uma pequena cócega prazerosa. Mas todos são tão secos quanto o bendito do soco. Admiro muito que consegue escrever bonito com o mínimo de racionalidade. Me incomoda muito quem escreve qualquer porcaria com palavrinhas bonitas e românticas, tipo Nando Reis (o que o cara escreve não faz o menor sentido, parece um apanhado de palavrinhas bonitinhas pra fazer uma musiquinha legalzinha subjetivinha). Margem à interpretação é bem diferente que coisa mal estruturada, sem coesão e coerência, que tem um ou dois períodos com alguma lógica. Opinião bem pessoal.
Mas voltando ao cerne da coisa toda, eu não gosto do meu próprio estilo de escrever. É algo que soa meio dramático, meio "eu não me amo", mas não é nada disso. Escrita é algo tendencioso, você direciona pra onde quiser. É muito difícil alguém escrever como de fato é. Eu achava que chegava ao menos perto disso, mas relendo o que escrevo vejo que é totalmente carregado de alguma emoção/situação momentânea. Não é o que sou, é como encaro as coisas. É como reajo.
As pessoas são muito complexas pra serem traduzidas em palavras. Sentimentos predominantes são mais fáceis de serem transpostos num blog, por exemplo. Algo a se pensar melhor, aprofundar mesmo. Mas é isso...
Raros foram os momentos que eu usei isso aqui motivado por sentimentos agradáveis (uns três que me lembro sem fazer esforço), então a mim, esse blog se torna predominantemente (de novo) desagradável. Coisa louca.
Ando ausente daqui... Na verdade ando ausente em muitos e muitos pontos. Retorno denovamente praquela onda de "vida de adulto". Muito trabalho, algum estudo e nenhum tempo. Na verdade o pouco tempo que me sobra é dedicado a coisas que considero "emergenciais", como namoro, família. Ando em dívida com amigos. O resto eu nem cito. Na verdade mal sei o que seria esse resto.
Tenho tido algum prazer no trabalho. É bom separar o joio do trigo e descubrir que há trigo. Trabalho é algo que passamos muito tempo pra ser desprazeroso... E incrivelmente ele é pra 95% das pessoas que conheço. Paciência...
Estudos ainda está pelas metades (desvantagens de "desfrutar" do ensino federal) mas o pouco que tenho visto tem me ajudado bastante e me interessado de fato. Mas o semestre ainda nem começou direito, há muito por vir. Que venha!
Amigos eu tenho visto poucos... Na verdade quase nenhum quase nunca... Meus planos pra vê-los costumam ser mal interpretados ou dão errado. What to do? Também não tenho me esforçado... E sinceramente não ando com cabeça pra isso... É mais difícil pra mim do que parece, lidar e entender as pessoas é tarefa árdua. Não ando com cabeça ou clima pra isso.
Na verdade, falando bem suavemente, a intolerância paira sobre meu ser nos últimos dias. Provavelmente seja o estresse... Mas tenho me controlado bem (eu acho que bem).
Enfim, depois de um panorama de como estou, vou tentar retomar a idéia principal da coisa: não gosto da minha forma de escrever. Não me atrevo a chamar de estilo, isso deve ser algo bem mais concreto e definido. Mas o engraçado é que tem que goste. Tudo bem, eu costumo respeitar os gostos alheios, mas não hesito em descordar quando tenho opinião contrária e minha opinião e requisitada. Ossos do ofício.
Enfim, esse texto foi um texto bem franco e muito pouco tendencioso... espero que eu só melhore daqui em diante.

Saudações.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Quebrando a promessa [2]

Porque uma parte de mim é sua... A outra é você.

sábado, 15 de novembro de 2008

Quebrando a (auto)promessa

Quem nunca quebrou uma promessa atire a primeira pedra...
Tinha prometido a mim mesmo voltar a escrever aqui só em janeiro! Mas, como vocês podem ver, não cumpri.
Quem me dera fosse essa a única (auto)promessa que eu não tivesse cumprido. Talvez estaria num estado much more dinâmico.
Prometi me atinar, prometi me esforçar, prometi me comprometer... Mas falta estímulo pra isso tudo. Apesar de dormir, em média, cinco horas de sono por noite, se eu pudesse, passaria minha vida inteira dormindo. Na verdade "dormindo". Chamaria de um estado intermediário entre estar dormindo e estar desperto, não sei explicar ao certo. Mas é aquilo de olhar sem estar olhando, ter uma redução considerável dos sentidos e ficar num estado meio zumbi.
Mas é engraçada essa tal falta de estímulo. A gente luta, luta, rala, rala, se esforça, se esforça. Até aí tudo bem, tudo lindo, tudo até louvável. Mas, se você para de repente e não acha porquê pra tudo que tá fazendo, tudo fica automaticamente vago e inútil. E é isso que me falta agora. Um porquê.
Não um motivo besta do tipo "ah, to fazendo pra terminar e ter feito". Ok, terminar e ter feito, pra depois?... Pra depois o que? É esquisito. Na verdade seria desesperador caso eu tivesse o mau hábito de me desesperar. Mas enfim...
Hoje, na minha vida, tá tudo muito disforme. Acho que foi esse ano como um todo. Ele foi muito disforme! Parando pra avaliar as coisas de maneira racional, tenho até idéia do que fazer. Mas na hora de "colocar a mão na massa"... Puf... Tudo que é energia se esvai... E faço o mínimo possível pra manter as engrenagens da minha vida rodando. Só pra ela não parar e entrar em parafuso. Já anda tão bagunçada pra eu dar uma louca dessa e parar com tudo. Mas Às vezes eu tenho vontade de parar...
Mas também às vezes eu tenho vontade de fazer tudo de uma vez, exemplarmente. E ocilando nesses dois extremos eu vou levando tudo. Tudo não, quase tudo. Quando envolve diretamente outras pessoas eu tento tomar um cuidado maior. Afinal, são outras pessoas, né? Ninguém tem culpa dos meus conflitos internos esquisitos. Não é justo.
Falando em justiça, esse é um dos poucos fatores que me estimulam. E acho que o que me desestimula, no final das contas, é que os resultados de praticamente tudo que eu faço virão a longo prazo. Tudo parece estar muito distante. Mas certas necessidades surgem agora! E pro agora o que eu faço? Pensar no agora ou no futuro. Daí começo a pensar, pensar, pensar...
Aliás, começava a pensar, pensar, pensar... Agora eu "mudo de assunto". Vou pensar em qualquer coisa mais leve ou que não entre nesses méritos filosóficos de meu ser.
O mais estranho é saber o que fazer e simplesmente não fazer. Cada dia é uma luta... Confesso que a maioria das batalhas tenho perdido... Mas garanto que, essa guerra, eu ganho!
Ano que vem que me aguarde...

Listening: Faust Arp - Radiohead.

A propósito! Radiohead no Brasil ano que vem (já) é um grande estímulo pra qualquer coisa!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Narração II

            Tinha eu cinqüenta anos de idade. Aparentava um pouco menos, talvez 38.  Tinha filhos. Não mais esposa. Onde estava ela? Morta e enterrada. Assim como eu estarei até o fim deste conto, senhor leitor. Mas vamos por partes.
            Três eram meus filhos: Rodrigo, o varão mercenário. Era meu primogênito. Rui, o rapaz sentimental. Sentimental a ponto que desconfiássemos de sua virilidade. Rubens era meu caçula, um rapaz robusto, porém pouco inteligente. Os três nunca se deram bem, desde a infância. E tal desentendimento se prolongou por toda vida.
            Vivíamos num matadouro. O lugar, senhor leitor, nem queira imaginar como é. Havia sangue quente espalhado pelo chão, animais gritando em agonia, moscas varejeiras por todo lugar. O visual era o mais chocante: animais abatidos pendurados, alguns dilacerados, outros com aparência de vivos e olhos brilhantes apesar de mortos. O cheiro de carniça no ambiente era uma constante. Havia lá, no matadouro, além dos currais, chiqueiros, onde porcos exalavam todo seu mau cheiro em lindos dias de sol escaldante. Situávamo-nos no interior do nordeste.
            E dessa forma, vivíamos felizes e contentes, como o senhor leitor poderia imaginar. Pois só imaginar. Com filhos de personalidade tão diferentes era impossível vivermos felizes. A começar por Rui, que achava um absurdo vivermos explorando a vida de seres inocentes. O senhor leitor não acredita o quanto ele era insistente quanto a isso. Não trabalhava conosco no matadouro. Ficava sempre dentro de casa ajudando sua mãe. Talvez daí venha todo seu sentimentalismo. Rodrigo não via animais no matadouro, via cédulas. Cada um era uma cédula de maior ou menor valor, de acordo com sua perspectiva de trabalho. Ele realmente entendia de abatedouros. Sempre estava acompanhado por Rubens que era seu braço direito. Na verdade Rubens era praticamente seus membros. Este cuidava de todo o trabalho pesado sozinho. Não era lá muito inteligente, e admirava o irmão que parecia sê-lo.
            Na verdade nunca me envolvi com meus filhos verdadeiramente, senhor leitor. Não participei de sua formação, apenas os assisti crescer e se tornar o que a vida e eles quiseram. Talvez esteja aí o ponto chave do problema. Achava que meu pai o tinha feito demais, me forçando a trabalhar nesse matadouro, e forçando a ser o que ele queria que eu fosse. E ele conseguiu. Mas eu não, eu não iria perpetuar isso. Talvez tenha levado isso demasiadamente a sério. Morri por causa disso. Contudo, morri satisfeito comigo mesmo, apesar de ter sido das piores pessoas que já vi. Já deve estar se perguntando como morri, não é mesmo, senhor leitor? Saiba que minha morte foi digna de cinema, com cenas surpreendentes e visual estonteante.
            Minha morte começou com a morte de minha esposa. Ela era minha companheira. Sempre quieta e calada, mas ali, do meu lado a todo tempo, sem nunca reclamar, se exaltar ou qualquer coisa assim. Se ela me amava eu não sei, mas ao menos me respeitava. E isso era o que eu admirava naquela mulher. Sempre calada, prestativa, presente, cuidadosa e atenciosa. Era quase a imagem de uma santa, ali, bela e quase sempre imóvel, olhando de maneira tão doce que chegava a constranger. Como uma pessoa que passou tudo o que ela havia passado ainda conseguia manter tal olhar sereno? Mistério.
Ela morreu de um ataque fulminante do coração. Até hoje não sei ao certo. Sei que ali morri junto. Tornei-me uma pessoa sem memória, sem passado, sem história e sem saudade. E uma pessoa só, apesar da companhia de meus filhos. Estes, com a morte da mãe, enlouqueceram. O senhor leitor deve imaginar o que é para um filho perder a mãe, não? Isso ao invés de uni-los, só piorou o convívio. Entretanto, o mais sentido com tudo era o que menos falava.
Rui viu a mãe morrer aos seus pés, como uma flor que murchava repentinamente na frente de um florista sem água para regá-la. Foi essa a sensação que ele sentiu. Na verdade ele nunca saberia descrever tal sensação, nem mesmo eu, mas a morte nos dá certa visão das coisas. Rui não comia, não dormia, vivia perambulando como um zumbi. Aparência magra, amarelado, olhos fundos e uma tristeza contagiante no olhar. Não existia a possibilidade de olhá-lo e não sentir um vazio sufocante. Ele não falava mais com ninguém. As únicas coisas que fazia era o que sua mãe fazia. Cuidava da casa, da cozinha, da comida, sempre com o ar morto, como a mãe.
Eu não conseguia me preocupar. Na verdade eu não conseguia sentir absolutamente nada. Rodrigo foi o que mais se desesperou, mas o que melhor aceitou o fato com o tempo. Tudo isso era complexo demais para que Rubens pudesse entender as proporções reais. Ele se desesperou como o irmão, mas foi um desespero sem sentido, sem o mínimo de razão. Ele só colocou o vazio que todos sentíamos para fora. E sentia saudades. Saudade da comida, da organização perfeita da casa, da prestatividade da mãe.
Tudo perdera sentido dentro daquela casa. Eu não sabia porquê matava os animais, Rodrigo não sabia porquê ou para que ganhar dinheiro, Rubens não sabia porque trabalhar tanto. Mas Rui era o pior: não sabia nada. Não se importava com nada. E assim a vida o arrastou durante oito anos. Oito anos que pareceram oitocentos. Mas um fato trágico deu uma reviravolta em toda essa situação.
Um dia qualquer, quando eu estava tirando o couro de um garrote, que morreu de não sei o quê, Rui vinha com o bule e xícaras para nos trazer café. Ainda com seu ar mórbido, me serviu sem sequer olhar ao redor. Serviu Rubens e Rodrigo em seguida. Rodrigo traga o café e diz:
- Essa porcaria de café tá fraco! Tá horrível, não vou beber isso. E em um acesso de fúria joga o café quente no rosto de Rui.
Rubens começa a rir desesperadamente até notar que o clima não era propício para tal reação.
- Vou lá pegar aquele tronco que você pediu, Rodrigo.
Rui está estático com o bule na mão. Eu assistia tudo a de camarote, sem entender o que estava acontecendo. Rui e Rodrigo se olharam durante alguns segundos que pareceram durar uma vida, quando, de repente, Rui segurando a alça do bule, lhe acertou um golpe com o objeto em sentido horizontal, para ser mais específico, da direita para a esquerda, que acertou o olho de Rodrigo. Senhor leitor, eu não gostaria de ter tomado tal golpe. Não foi um golpe por um simples motivo. Foi um golpe de revolta, de raiva, de remorso, de todo o sofrimento que o irmão causara ao outro durante toda a sua vida. Foi um golpe que o coração controlou não a mão ou o braço. Foi algo que veio dentro de sua alma, algo que o trouxe de volta à vida por alguns milésimos de segundo. Ele precisava disso. Isso precisava dele.
E, pela primeira vez em oito anos, vi um resquício de vida no garoto: um esboço de sorriso amarelo, fraco e desastrado. Isso me tocou de alguma forma. De uma forma estranha, que fez sentir algo que eu nunca havia sentido em toda minha vida. Não sei dizer se foi bom ou ruim, senhor leitor, e não há sensação pior do que não saber direito o que se está sentindo. Mas não há sensação melhor do que sentir. E estava eu lá, no meio desse paradoxo de sentimentos, vendo Rodrigo caído no chão, com o rosto escorrendo sangue.
O sangue de Rodrigo se misturava com o sangue do boi que eu tirava a pele, gerando um cheiro que nunca exalara naquele ambiente. Lidamos com sangue toda a vida e nunca tínhamos sentido o cheiro de sangue humano. Talvez não exatamente isso, talvez o cheiro de sangue humano misturado com sangue animal. Rui sentia-se satisfeito ao ver o irmão Rodrigo, abatido como um boi, coisa que ele abominou por toda a vida. Rodrigo estava lá no chão, sangrando, como todos os animais que ele abatera. Quem abatia, agora fazia parte do abate. E isso causou uma felicidade cruel em Rui, que há muito não sabia o que era felicidade.
Rubens voltava calmamente de onde estava quando se deparou com a seguinte cena: Rodrigo, no chão, caído desajeitadamente, por cima dos próprios braços, com uma poça de sangue ao redor de seu corpo, que ao ver de Rubens, já era um cadáver. Rui estava com o bule na mão, e este estava amassado e sujo de café. Havia manchas de café e sangue em sua roupa e aquele maldito esboço de sorriso em seu rosto. O olhar era um misto de felicidade e vingança, com leves pitadas de diversão em ver o irmão caído. Eu estava estático, com uma faca suja de sangue já escorregando pelos dedos. Estava à meia distância, o que proporcionava uma boa visão dos três ao mesmo tempo, sem precisar mexer a cabeça para vê-los, como um quadro.
E este seria um dos quadros mais belos e humanos do mundo. O ar de vingança e felicidade de Rui, a feição desesperada de Rubens e a situação trágica a qual Rodrigo era protagonista: a humanidade ali, nua e crua.
Rubens, ao ver tudo isso, foi se aproximando lentamente de Rui, com o receio que o desespero causa, e com o choque que a visão proporciona. Parou defronte ao irmão e gritou como nunca havia gritado antes:
- O que aconteceu?! Por que você fez isso?! Você tá louco?!
E Rui ainda estático, sem olhar o irmão, só conseguia pensar em como o irmão, que não tinha uma inteligência tão apurada, tinha certeza que ele dera o bendito golpe em Rodrigo.
Depois desse transe, guardei minha faca na cintura do avental e comecei a caminhar rumo ao local onde estava Rui estático, Rubens exaltado e Rodrigo desmaiado. Enquanto me aproximava do local, vi que Rodrigo começou a fazer movimentos inibidos, voltando à consciência. Num estalo, resolvi ajudá-lo a levantar. Ele levantou zonzo, sem saber o que estava acontecendo. Ao ver o irmão, me atacou, pegou a faca que estava em minha cintura (o senhor leitor não sabe o quão grande e afiada era essa faca) e foi de encontro ao irmão, numa velocidade e fúria jamais vista.
Consegui, não sei como, me colocar a frente de Rui antes de Rodrigo, que vinha armado e com os olhos em chama. Ele empurrou Rubens e esgoelou:
- Sai daí! Eu vou matar esse desgraçado!
- Você tá enlouquecido de raiva! Se acalma! Larga essa faca! – disse eu, num súbito ato digno e justiceiro.
            Rui continuava estático e Rubens só assistia ao diálogo gritado e assustador, quando Rui gritou, de forma dura e prolongada, num rasgo de fúria:
            - Sai!
            Durante esse grito, atacou com toda a força e raiva do mundo o irmão. Eu não me movi e recebi a facada no lugar de Rui. A faca entrou abaixo do osso do meu ombro, acima do peito. O sangue jorrava como um chafariz. Rodrigo se desesperou, largou a faca e ajoelhou sobre mim, que já estava caído no chão nesse momento. O sangue jorrou em sua face, que ficou completamente vermelha.
            O mais assustador, senhor leitor, é que não senti dor alguma. Caí por vertigem, uma fraqueza instantânea que me puxou vagarosamente ao chão. Como Romeu, em Romeu e Julieta, morri vagarosamente, como se estivesse dormindo, esperando encontrar meu amor na vida pós-morte. Mas meu amor não era uma pessoa ou mesmo minha esposa. Meu amor era o amor em si, o sentimento que eu nunca sentira na vida e desejava de corpo e alma sentir após a morte. Talvez essa fosse exatamente a única solução para que eu pudesse encontrá-lo.
            Rubens se debruçou chorando sobre meu corpo, e Rodrigo gritava desesperadamente. Gritava coisas estranhas, sem sentido, talvez não fossem nem palavras, mas gritava. Gritava para liberar sua loucura.
            O fato mais estranho foi que, até o meu falecimento, não vi o filho pelo qual dei a vida. Mas me senti importante. Importante por ter salvado a vida de alguém, já que a minha vida tinha valido muito pouco e eu nunca tinha feito nada de importante. Irônico pensar que o primeiro ato que eu realmente julguei importante na vida foi exatamente o ato de findá-la por alguém.
            E assim, senhor leitor, acabou-se uma família que na verdade nunca existiu realmente. Todo o acontecido no dia de minha morte foi apenas vontades de vidas inteiras colocadas em prática. Tanto o meu feito nobre, quanto a vingança do irmão reprimido e até mesmo a tentativa de assassinato do irmão que reprimia. Na verdade Rodrigo apenas queria que a mãe lhe desse tanta atenção quanto dava a Rui. Rui queria que sua mãe nunca saísse de perto dele. Rubens queria ser como o irmão mais velho e por isso, fazia tudo o que ele queria, com a esperança de que conseguiria se tornar ele. Eu, que não queria nada. Na verdade, queria alguma coisa, que algo importante acontecesse. Minha esposa foi a única que não compartilhava desses sentimentos mesquinhos e humanos. Talvez ela nem fosse de fato humana.
            E assim, senhor leitor, acabou essa suposta família. O homem destrói o homem pelo simples fato de ser homem.