sábado, 24 de maio de 2008

Ensaio Sobre o Nada

Um tempo atrás, senti uma vontade repentina de escrever algo, mas o quê? E como? A única coisa que me veio à cabeça foi o nada.

A definição mais concreta e que melhor relatou o “nada”, recebi numa aula de filosofia, no ensino médio: Nada é um ente. A princípio, a confusão só aumentou, já que em seguida ouvi: “tudo é um ente”. Usando de uma lógica ligeiramente falha, nada é tudo, ou vice-versa. Mas essa linha de raciocínio não está de todo errada, já que nada é alguma coisa, gerando assim uma contradição em termos, porém uma ligação entre as idéias.

Quanto à forma, identifiquei-me com o ensaio após aula expositiva sobre ele. A definição que mais cativou, em meio a todas as tentativas de explicar o que de fato seria um ensaio, foi a de “um esboço literário”. Como o rascunho de um desenhista. Como é raro o caso de um rascunho vir a público, ele se torna, e tem o valor de nada. Aqui está nosso ponto de conexão. Um ensaio, assim como o rascunho, é nada.

E por que não, usar o nada para falar do nada? Juntando todos esses pensamentos levantei essa questão, que é totalmente paradoxal, e estou praticando-a aqui. Segundo a lingüística, a língua pode e deve explicar a própria língua. Tendo isso em mente, decidi testar aqui algo similar, o “nada” explicando o “nada”.

Sinto-me afundado em nada. Pessoas que não são pessoas, coisas que não são coisas, tudo no fim das contas parece nada. O mundo é um grande jogo de aparências, que ao ser desmontado resulta numa só coisa: nada.

Se uma pessoa finge ser bacana com você, mas de fato não é, e você acaba descobrindo, aquilo tudo se torna nada. Se uma coisa aparentemente é boa, mas na verdade ela é ruim, ou mesmo nada, seria novamente nada. É possível que tudo, aliás, nesse caso nada, esteja ligado a juízo de valor, e somente para mim, tudo pareça nada. Mas é difícil acreditar que uma pessoa que finja ser sua amiga, e no fim das contas descobrir que ela nunca foi, seja alguma coisa para você. Tanto ela quanto a amizade que partia dela é nada, já que não era.

É difícil acreditar também que algo, escrito num papel, sem mera comprovação teórica, ou mesmo, algo que nunca vá ser lido, seja realmente alguma coisa. Por isso, categorizo o ensaio como nada, e espero realmente que ninguém (ou pelo menos quase ninguém) o leia realmente. Logo, tudo isso que escrevo nesse momento é nada em potencial.

Talvez me achem louco, idiota, desatarefado, e essa é a razão pela qual me escondi no ensaio: “um modelo teórico que você não precisa explicar por A+B o que acha”, ou seja, ao meu ver, o ideal para explorar e explanar o meu nada. Nada nunca será provado (e não interprete a oração anterior no seu sentido mais comum, tente absorver a lógica da coisa).

Viva aos ensaios, que nos dá liberdade de falar de assuntos diversos, sem precisar ser exato em uma coisa subjetiva. Viva ao nada, que me rendeu tanta coisa sem fundo teórico para falar, que reside em meus pensamentos, e que agora, nesse exato momento, toma um pingo de vida. Mas é claro, uma vida de nada.

Poderia eu me estender por mais diversas páginas filosofando baratamente sobre o nada, mas termino por aqui, sem mais nada a dizer.

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